Casa da Juventude
Por Redação EmCampos - 26 de agosto de 2023

A Casa da Juventude, uma das mais antigas construções de Campos do Jordão, localizada no final da Avenida Brigadeiro Jordão em Vila Abernéssia, foi construída na década de 1920 como residência. Apresenta uma arquitetura tradicional das casas de fazenda da época, conservando seu estilo original.
Na década de 1930, Campos do Jordão era um festival de pensões de tuberculosos, que se localizavam, em sua maioria, em Vila Abernéssia.
Propriedade do dr. Diogo Lara Cruz, era usada como pensão mista para doentes de tuberculose. O município era procurado pelos tuberculosos advindos das mais diversas partes do país e do mundo para tratamento e cura da moléstia.
Antonio de Toledo Lara, o nobre Conde de Lara, nascido a 21 de dezembro de 1864, em Tietê SP, por mercê de galardão concedido pelo Papa Pio X, a 14 de março de 1912, e Sra. Condessa dona Francisca de Toledo Lara, nasceram em terras do Curuçá e pelos seus feitos, os tieteenses deles se orgulham.


O Conde de Lara era filho de Antônio Rodrigues de Proença Lara e de dona Tereza Amélia de Toledo.
A família do conde de Lara, seus filhos, Tácito de Toledo Lara, Theolônio de Toledo Lara, Antonio de Toledo Lara Filho, Luiz de Toledo Lara, Henrique de Toledo Lara, Davina Lara e Tereza de Toledo Lara; benemérito cidadão e insigne cavalheiro paulista, passou sua útil e valiosíssima existência semeando benefícios e espargindo atos de generosidade, com o que fez viver muitas instituições de caridade e assistência pública, ajudou a numerosos estabelecimentos de alta filantropia e permitiu a realização de obras e de acometimento de alto relevo médico social e de acendrado altruísmo.
Um de seus netos, Diogo de Toledo Lara, grande empresário de São Paulo, foi proprietário de várias glebas de terras em Campos do Jordão. No ano de 1923, o Comendador Antonio Rodrigues Alves e sua esposa, alienaram a área a Luiz Ferreira Tinoco, que a transferiu ao Dr. Claro César. Os herdeiros de Claro César venderam-nas para Diogo de Toledo Lara, que ali implantou a Vila Paulista.
Era um filantropo. Seu nome estava ligado a quase todas as associações beneficentes de São Paulo, cujas obras de caridade e benfeitorias sempre mereceram a ajuda financeira do titular desaparecido. Faleceu em 21 de abril de 1935. Após o seu falecimento, seu testamento deixou legados às instituições de caridade de São Paulo em escolas, maternidades, santas casas, asilos e outros estabelecimentos de caridade. Dentre os estabelecimentos de caridade, foram distribuídos os seguintes legados: Sanatório São Paulo de Campos do Jordão, 50 contos de reis; Sanatório Santa Cruz para tuberculosos pobres, de Campos do Jordão, 40 contos de reis; Sanatorinhos, 12 contos de réis.
Certa vez, um doente procedente de São Paulo, em estado grave, teve recusada a sua internação, sob a alegação de que não era portador de tuberculose. Seu patrão, sr. Antoninho, não se conformou, levando-o ao \prof. Lemos Torres que, diagnosticou tuberculose. Trouxe, novamente, o doente ao dr. M. A. Nogueira Cardoso que o tratava. Um belo dia, sr. Antoninho ao pagar o preço cobrado pelo dr. Cardoso, 150 mil réis, puxou o cheque e fez um donativo a “Sanatorinhos”: 12 contos de réis. O dr. Cardoso pegou o cheque e leu: Antonio Toledo Lara. Era o sr. Antoninho, o Conde de Lara!
A Casa da Juventude, durante as décadas de 1940 e 1950, foi residência da Família italiana, Santo Scófano, conhecido também por Santo Peixeiro. Foi um antigo comerciante de peixes e frutos do mar, por mais de trinta anos, estabelecendo-se no antigo Mercado Municipal de Campos do Jordão. Sua simpatia e habilidade com os peixes, até hoje são lembradas pelas pessoas mais antigas da cidade. Cada cliente era um grande amigo e, toda vez que ia comprar peixes ou frutos do mar, recebia as orientações necessárias para o seu preparo à moda da tradicional e maravilhosa cozinha italiana.
Mais tarde, esse casarão passou à Rede Internacional de Albergues da Juventude, onde ficou conhecida por todos como “Casa da Juventude”, possibilitando aos jovens de todo Brasil e de várias cidades do mundo, a oportunidade de conhecer Campos do Jordão, hospedando-se em local com preço extremamente reduzido. Foi inaugurada em 1960, num encontro de amigos pertencentes ao Rotary Club de Campos do Jordão: Sr. Amadeu Carletti Junior, Sr. Horácio Padovan e Sr. José Ferreira Areal.
As Casas da juventude tinham o objetivo de promover o desenvolvimento integral da juventude, fortalecendo processos de aprendizagem e autonomia para a efetivação das políticas públicas para os jovens. Ofereciam serviços especializados sobre adolescentes e jovens, com acompanhamento a grupos comunitários e organizações juvenis, através de ações socioeducativas na perspectiva da garantia de direitos, tendo em vista o engajamento e o compromisso na construção da cidadania, através de uma formação integral e processual.
Em 1974, a Casa da Juventude serviu como cenário para o filme dirigido por Cláudio Cunha, “O Clube das Infiéis”, que teve no elenco, Tony Tornado e Iara Marques.
Em 1976, o Exército Brasileiro se alojou ali, para realizar alistamento militar dos jovens de Campos do Jordão.
O Museu da Imagem e Som de Campos do Jordão, criado pela Lei nº 869 de 15 de abril de 1971, teve como principal objetivo registrar e preservar o passado e o presente das manifestações ligadas às áreas de cinema e fotografia, e reunir o que possa contribuir para reconstituir até o presente os acontecimentos históricos jordanenses. Foi instalado na Casa da Juventude em 09 de outubro de 1990, pelo decreto nº 322/90, passando a ser patrimônio da Prefeitura Municipal da Estância de Campos do Jordão e inaugurado em 1992, na gestão do prefeito Fausi Paulo, sendo o Prof Jarmuth de Oliveira, Chefe de Gabinete, e a Profª Cecília Murayama, Secretária de Cultura.
Em 1998, através da matrícula nº 2.0260, a Prefeitura Municipal torna-se proprietária do imóvel situado à Rua Brigadeiro Jordão, 1236 – atual Casa de Cultura Prof. Antonio Fernando Costella, via desapropriação amigável, transmitida por Clotilde Pereira de Toledo Lara (espólio de Diogo de Toledo Lara).
A Casa da Juventude, atual sede da Secretaria Municipal de Valorização da Cultura, abrigou também o IPHAC – Instituto do Patrimônio Histórico, Ambiental, Artístico, Arquitetônico e Cultural de Campos do Jordão, de 09 de setembro de 2004, ano de sua criação, pela lei nº 2831/04, até novembro de 2019, quando foi extinto.
A Casa da Juventude, edificação de arquitetura histórica, foi tombada como Patrimônio Histórico Cultural e Arquitetônico em 20 de abril de 2012, pelo Decreto nº 7836/17, de 23 de novembro de 2017.
Fontes de Pesquisa:
Jornal “A Gazeta”, de 19 de fevereiro de 1931;
Jornal “Correio da Manhã”, de 10 de maio de 1935;
Jornal “A Noite”, de 15 de maio de 1935;
PAULO FILHO, Pedro Paulo. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp.784.
Annuário Genealógico Brasileiro (SP) – 1939 a 1948
Imagens:
Edmundo Ferreira da Rocha;
Campos do Jordão Cultura (www.camposdojordaocultura.com.br)